O tempo para fazer nascer
É do amor pela natureza que produzimos quando unificamos os elementos dispersos do mundo sensível, na expectativa de os elevar a um nível superior de realidade.
Coloco o corpo num campo aberto a experiências, num equilíbrio que condensa o significado, a contemplação e a frescura das sensações fugazes. Parto do turbilhão de emoções e do caos da imaginação para a ação em que a interpretação e a criação fragmentada de um conjunto de ideias se desenrolaram pela praxis, tecendo-se e fundindo-se novamente com o universo (o todo que é a natureza). A percepção que transforma as peças em unidades isoladas ou em porções da unidade global é o primeiro passo – ainda que afetivamente neutro – da intuição estética. A este passo, sucedem-se a impressão sentida e o valor reconhecido enquanto ingredientes de uma visão em crescente aprofundamento. A visibilidade de uma paisagem e a irradiação afetiva que dela emana são as faces do mesmo sentimento, tudo está ligado ao todo.
Engrácia Cardoso, Lisboa, 2022